Uma nova identidade visual, mudanças no cardápio e produtos de marca própria fazem parte do processo de rebranding do Café Girondino, tradicional estabelecimento do Centro de São Paulo. Criado em 1875, na Praça da Sé, o negócio mudou para a esquina da rua São Bento com a Boa Vista em 1998, e agora se prepara para um ousado plano de expansão, com previsão de abertura de 150 lojas pelo país.
Partindo do desejo de ter uma flagship, André Boaventura, sócio e gestor do Girondino, tem se dedicado nos últimos meses a pesquisar referências e profissionais para nortear o novo momento do negócio, que assumiu em 2020.
Ele contratou a designer Claudia Lammoglia, com passagem pela Pinacoteca e responsável pela reformulação do Le Jazz. A designer vai retrabalhar a marca do Café, a comunicação visual, cardápios, uniformes, entre outros itens.
Além das mudanças na decoração, o empresário quer resgatar a história do lugar, criar um empório, ter produtos de marca própria e oferecer novas experiências de bar com um investimento estimado em R$ 1,5 milhão.
Para além disso, pensando na importância que o estabelecimento tem para a vitalidade do Centro, Boaventura quer também se conectar com vizinhos e, possivelmente, articular futuras parcerias.
Segundo ele, histórias como a do Café Girondino e da Mercearia Godinho, na rua Líbero Badaró, declarado patrimônio cultural da cidade, merecem ser perpetuadas e, de certa forma, ter sua experiência requalificada para retomar o protagonismo no triângulo histórico.
Para Boaventura, o momento é muito oportuno. Com a concessão do Martinelli, as obras do calçadão, o público retornando ao Centro e com uma série de ações acontecendo, a marca Girondino quer mostrar que está comprometida com essa requalificação.
Ao mesmo tempo em que repagina o negócio – do ambiente físico ao cardápio -, nos próximos seis meses o empresário se dedicará ao plano de expansão do Café Girondino. O desejo é inaugurar a flagship na data do próximo aniversário de São Paulo (25 de janeiro), e ter em mãos o planejamento da abertura de outras 150 lojas pelo país a partir de 2025.
“Um plano muito ousado e que está ancorado em perpetuar nossa matriz. Entendo que o Girondino precisa contar sua história e a do Centro de São Paulo em outros locais”, diz.
Hoje, o arroz doce é a preparação mais clássica da casa. O famoso picadinho e o filé Oswaldo Aranha também fazem parte dessa nova identidade cada vez mais paulistana e que busca um equilíbrio entre passado e futuro.
“Esse momento do Centro nos inspira. Queremos resgatar um cardápio das antigas revivendo memórias do inícios do século 20”.
O empresário recorda que o Girondino surgiu em uma época em que a gastronomia era muito clássica, mas em um período em que os chefs não eram muito valorizados e as cozinhas não tinham uma assinatura.
Recém-chegado ao Café, há dois meses, o chef Daniel prepara essa nova fase com a ajuda da chef Clarice Reichstul, a responsável por repensar o menu e trazer novas receitas ao Shoshana, restaurante judaíco do Bom Retiro.
Com uma das portas do Café voltada para uma uma galeria, o empresário quer estender as mesas do Girondino para o calçadão da São Bento. Para Boaventura, mais uma forma de transmitir segurança e tornar o entorno ocupado.
Acompanhando essa ideia, o desejo do empresário é ocupar pequenos pontos da região com quiosques do Girondino para trazer ainda mais fluxo e permanência em espaços como, por exemplo, o deque implantado entre as ruas São Bento e Líbero Badaró.
Outra mudança, que ficará a cargo do escritório de arquitetura Gurgel D’Alfonso, é a criação de uma nova fachada. A atual, segundo o empresário, hoje não condiz com a riqueza histórica do estabelecimento. Elementos que remetem ao Ciclo do Café e coberturas de toldo devem surgir em breve na entrada do Girondino.
Nesse processo de unir pesquisa, história e cultura, Boaventura retoma também a primeira função do prédio onde atualmente está o Café, que originalmente abrigava o Grande Hotel Paulista, inaugurado em 1 de outubro de 1889.
A ideia é estudar essa história e aplicar traços arquitetônicos da época. Publicações históricas relatam um espaço com grandes candelabros a gás iluminando a entrada principal, escadas de mármore, quartos amplos e decorados com elegância. Citações da época também fazem referência ao restaurante do hotel, que era considerado excelente.
O prédio do Grande Hotel foi o primeiro prédio comercial no estilo neo-renascentista da cidade e é considerado o primeiro a se integrar à “revolução da verticalização” do Centro Velho, inaugurando a série de hotéis localizados em arranha-céus. Depois dele, surgiriam outros, também muito importantes para a hotelaria paulistana, como, por exemplo, o Hotel São Paulo e o Othon Palace Hotel.
Texto crédito: Mariana Missiaggia/DC