O número 150 da Praça Doutor João Mendes, no Centro Histórico de São Paulo, não é um endereço qualquer. Ali, funciona a Padaria Santa Tereza, a panificadora mais antiga do Brasil. Fundado em 1872, o estabelecimento pertencia à família Vaz Teixeira e ficava originalmente na Rua Santa Teresa, até ser transferido para o endereço atual, há cerca de 80 anos. A mudança aconteceu por causa da construção da Catedral da Sé, que começou em 1913 e foi inaugurada em 1954. Com seus 152 anos de história, a Padaria Santa Tereza atravessou o tempo marcando a vida do Centro da capital paulista e conquistando fregueses de todos os tipos e lugares. Para uma pessoa, no entanto, ela tem um significado ainda mais especial.
Aos 35 anos, a nutricionista Natália Maturana é a responsável por gerenciar o local, que foi comprado por seu avô, Jesus Nazareth Maturana, há quase três décadas. “Meu avô também era dono de padaria, mas tinha um verdadeiro fascínio pela Santa Tereza, que ele frequentava desde garoto”, disse Natália. Em 1995, a família proprietária da panificadora entrou em crise financeira e Jesus não pensou duas vezes: fez uma oferta e realizou o sonho de tornar-se dono da padaria mais antiga do país. Em seguida, ele reformou o estabelecimento, mas sem alterar sua identidade original. Na decoração, os destaques são as paredes cobertas de azulejo, o piso frio e a bancada com o letreiro ao fundo.
Somam-se a isso os novos elementos incorporados ao primeiro andar da casa, numa reforma feita em 2006, com janelas que dão vista à Catedral da Sé e móveis de madeira. “Infelizmente, meu avô faleceu pouco depois dessa reforma, em 2007, e não pôde ver muito do que ele foi capaz de construir”, afirmou Natália. Apesar de a estética ser importante, ela também cita a comida servida na padaria e o atendimento intimista como pontos altos. Do cardápio, o grande destaque é a canja de galinha e a coxa-creme, que já recebeu o prêmio de a mais saborosa de São Paulo. “Temos clientes assíduos que conhecem a história dos meus funcionários e os meus funcionários sabem da história da vida deles”, disse.
COMO MANDA A TRADIÇÃO
Para manter o clima de saudosismo, a padaria não adotou iniciativas modernas presentes em muitos estabelecimentos do setor. Na Santa Tereza, não há QR Codes, tablets nem botões nas mesas para chamar os garçons. Os atendentes gostam de tratar os clientes pelos nomes e, no caso dos frequentadores mais assíduos, já sabem o que cada um vai pedir. Essa atenção aos fregueses levou a administração da casa a tomar uma decisão corajosa em se tratando de um ponto comercial. Todos os dias, as portas são fechadas às 20h. “A gente tem um carinho muito grande pelos nossos clientes. Não vale a pena ficar aberto depois desse horário e abrir a possibilidade de a pessoa consumir bebida alcoólica e ir embora. Sei lá o que pode acontecer”, afirmou Natália. “Não é esse tipo de dinheiro que eu quero. Vou ficar muito mais feliz se o cliente estiver em segurança e voltar aqui na manhã seguinte, para comprar um pão quentinho”.
Nesse ambiente de cuidado e valor histórico, alguns objetos têm significado único para Natália, como um relógio cuco, de 200 anos, que a mãe dela ganhou de um cliente e um quadro com o rosto do seu avô, desenhado por um artista plástico que até hoje frequenta a padaria. Com todos esses elementos, a trajetória da Padaria Santa Tereza se cruza com a do Centro de São Paulo e parece estar no local perfeito. “Hoje, a região central da cidade tem pontos que são maravilhosos de se conhecer. Penso que nossa padaria pode ser um desses locais históricos que merecem uma visita”, afirmou. “Nada mais adequado do que a padaria mais antiga do Brasil estar no coração da maior cidade do país”.
Texto crédito: Naira Zitei
IMAGEM: Divulgação