O Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo anunciaram na semana passada novas ações conjuntas para ampliar a segurança e requalificar a região central da capital. Para detalhar essas medidas, o Diário do Comércio conversou com o subprefeito da Sé, coronel Alvaro Batista Camilo.
Ele é responsável pela administração pública dos oito distritos da região central: Bom Retiro, Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, República, Liberdade, Cambuci e Sé, em um território de 26,2 km2, com uma população residente de aproximadamente 431 mil habitantes e população flutuante de cerca 2 milhões de pessoas.
Entre as ações anunciadas estão modificações na Atividade Delegada, como o reajuste nas gratificações e a inclusão do Corpo de Bombeiros, além do aumento do efetivo policial nas ruas.
DC: Quais fatores colaboram para que a criminalidade na região central seja tão alta?
Coronel Camilo: O crime tem três vertentes: o ambiente, a impunidade e o cuidado pessoal da população. O infrator que tem em mente que ele não será devidamente punido, não tem medo de ser preso, e isso coopera para a criminalidade. Também precisamos do apoio da população, que precisa ter consciência de como deve agir em determinadas localidades. Não basta colocar a culpa no poder público. Algumas atitudes que incentivam os ladrões podem ser evitadas, como ficar andando em ruas de alta aglomeração, como a 25 de Março, falando ao celular, deixar bolsas facilmente acessíveis aos criminosos, não ter cuidado para entrar e sair de casa ou do carro e ficar contando dinheiro ou mexendo na carteira no meio da rua. O terceiro fator que corrobora com o crime é o ambiente inadequado. Se um lugar não é iluminado, é sujo e desordenado, há chances maiores de o criminoso agir, porque ele precisa se esconder.
E o que tem sido feito para melhorar o ambiente da região central?
Primeiro, tivemos que mexer na iluminação de toda a cidade. Aumentamos, inclusive, a potência das luzes em diversos locais do Centro. Também temos a operação Centro Limpo, onde alteramos a frequência da coleta de lixo. Antes, era apenas uma vez por dia e agora varia de seis a oito vezes por dia, dependendo da rua. Fazemos a lavagem constante de algumas ruas para que o ambiente fique menos encardido. Quando temos um local limpo e iluminado, as chances de crimes são bastante reduzidas. Além disso, como parte do pacote de ações, o prefeito Ricardo Nunes aumentou o número de vagas na Atividade Delegada, onde os policiais podem trabalhar em suas folgas ganhando um valor maior. A tabela de novos valores da gratificação que reforçam a segurança na capital foi divulgada na semana passada.
Quais são as novas remunerações da Atividade Delegada?
Com os novos valores, soldados, cabos, sargentos e subtenentes passam a receber R$ 328,90 por período de oito horas na Atividade Delegada, e oficiais terão direito a remuneração de R$ 394,68 pelo mesmo período. Para as regiões estratégicas, como é o nosso caso aqui da Sé, os valores são de R$ 427,56 para praças e R$ 513,08 para oficiais. Já os adicionais noturnos ficam em R$ 394,68 e R$ 473,61, respectivamente.
A adesão à Atividade Delegada era baixa. Isso mudou?
Desde janeiro registramos um aumento considerável na procura pela Atividade Delegada. Na semana passada tivemos o reajuste de 20% nos valores da hora trabalhada e de 30% se for em regiões prioritárias, como a Sé. Além disso, há um adicional de mais 20% se for trabalho entre 22h e 6h – independentemente da localidade. Antes, nossa adesão variava entre 40% e 60% no máximo. Agora, 100% das vagas já estão tomadas desde que o prefeito anunciou o reajuste. Houve um aumento de 1,2 mil vagas, totalizando 2,4 mil vagas para oficiais de folga. E posso afirmar que 1,2 mil delas estão destinadas exclusivamente ao Centro. Além disso, vamos implementar uma nova governança da Atividade Delegada.
Em que consiste essa nova governança?
Havia um modelo de distribuição de policiamento que não estava efetivo e não rendia muito. Por exemplo, era comum encontrar 10 PMs em uma mesma região. Era meio bagunçado. Agora conseguimos distribuir duplas e cobrir mais regiões, além de direcionar mais policiamento para lugares de maior necessidade. A mesma coisa está sendo feita com a Guarda Civil Municipal. Os mesmos incentivos da Atividade Delegada foram aplicados à GCM. Com isso, esperamos que, gradativamente, a criminalidade tende a diminuir e que a população se sinta mais segura para vir ao Centro. Um trabalho de prevenção é sempre muito mais efetivo.
O senhor poderia comentar um pouco sobre o projeto Smart Sampa? Como isso ajuda na segurança?
Até o momento, a prefeitura instalou na cidade cerca de 500 câmeras de reconhecimento facial do projeto Smart Sampa. O projeto prevê 20 mil equipamentos instalados ainda no primeiro trimestre, sendo 5 mil até o fim de 2023. E esperamos que a Central de Monitoramento, que será instalada no Prédio do Palácio dos Correios, no Vale do Anhangabaú, esteja operando também. O sistema pretende gerar alertas e disparar os módulos de segurança. Um efetivo da Guarda Municipal está sendo treinado segundo o Protocolo Operacional Padrão e será responsável por operar o videomonitoramento. Acredito que isso vai facilitar muito o trabalho da polícia, já que tudo poderá ser identificado à distância e, quando houver necessidade, ter alguma ação imediata.
O Smart Sampa também vai permitir que o cidadão comum disponibilize a câmera de sua casa para segurança, certo?
Sim, esta será a segunda fase do projeto, que ainda não tem uma data para ser concluída. Ao todo, o sistema poderá contar com até 40 mil câmeras, já que além das 20 mil unidades instaladas em equipamentos públicos previstos na contratação, o programa possibilitará a integração de outras 20 mil câmeras privadas de moradores, de empresas ou de concessionárias. Isso aumenta consideravelmente nossa área de atuação e efetividade contra o crime.
O programa prevê a integração de diversos serviços públicos de segurança?
Sim, temos neste projeto a CET, o SAMU, a Defesa Civil, a Guarda Civil Metropolitana, as Polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros integrados por meio de uma única plataforma, permitindo o monitoramento de ocorrências em tempo real. Queremos a segurança dos moradores, comerciantes, trabalhadores e dos turistas que frequentam o centro da cidade principalmente. Isso ajuda a aumentar o fluxo de pessoas na região. Pelo Smart Sampa, é possível até identificar objetos no chão, pessoas correndo, veículos na contramão, rostos, e isso entre tantas coisas que acontecem na capital. Qualquer situação que fuja do padrão, o sistema consegue avisar a equipe de monitoramento por meio de inteligência artificial. O Smart Sampa é nosso grande aliado contra o crime.
A Prefeitura de São Paulo entregou, em novembro deste ano, 57 novas viaturas para a GCM. Quanto disso é destinado ao patrulhamento da região central?
Com essa nova aquisição, a região central ganhou 20 viaturas e chegamos a uma frota de 77 viaturas e 140 motos. Na cidade de São Paulo como um todo, esse total é de 328 viaturas e 184 motos.
E como está o efetivo na região central atualmente?
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana intensificou o patrulhamento comunitário e preventivo no centro da cidade, com a ampliação do número de viaturas e motos, como já falei anteriormente. Em número de oficiais, a região conta com mais de 1.600 agentes da GCM, que realizam o patrulhamento por meio de rondas periódicas, 24 horas por dia, além das bases comunitárias. Acredito que, gradativamente, essas ações tragam as pessoas de volta ao Centro porque muita gente ainda tem aquela visão de que a região central é um lugar cheio de risco. De um ano para cá, isso tem melhorado e já sentimos as melhorias, mas ainda há o que ser feito.
Quanto desse efetivo está direcionado à Cracolândia?
Tudo o que vejo de notícias sobre a Cracolândia tem um tom negativo e temos que mostrar também as coisas que estão sendo feitas na região. Tivemos um aumento de efetivo policial lá com 400 oficiais da Guarda Civil Metropolitana durante o dia e 900 à noite. Para efeito de comparação, a chamada ‘cracolândia’ de Los Angeles, nos Estados Unidos, é três vezes maior do que a de São Paulo e lá o poder público basicamente lava as mãos. Eles acreditam que zelar pela própria saúde é uma decisão de cada cidadão. Não há um trabalho governamental intensivo contra o tráfico. Aqui em São Paulo temos outra visão, de ajuda e cuidado com essas pessoas. Várias ações são realizadas neste sentido e não apenas o policiamento da região para evitar crimes e brigas.
Existe um prazo para que a população possa começar a sentir os benefícios dessas novas ações?
O Centro já está melhor! Se compararmos com o que era há um ano, já temos muitos avanços. O poder público tem feito seu papel. Agora precisamos de uma comunicação mais efetiva para que a população tenha consciência dessa mudança e volte a frequentar a região sem medo. As novas ações de aumento do efetivo policial, a limpeza da região e a melhoria da iluminação devem trazer resultados positivos contra a criminalidade no Centro em cerca de seis meses. Acredito que no fim de 2024 a população já poderá dizer que tivemos uma mudança realmente significativa e concreta. É um trabalho difícil, que precisa da colaboração de todos e não é de um dia para o outro que vamos acabar com a criminalidade exacerbada. Temos um desafio pela frente e tenho esperança que chegaremos lá.
Crédito texto: Cibele Gandolpho/DC
IMAGEM: Prefeitura de SP/Divulgação