Novo Centro Histórico em construção: mais organizado, seguro e povoado

Prédios antigos ganharão novos usos com incentivo para o retrofit, estimulando maior fluxo de moradores e clientes para o comércio

A exemplo do que aconteceu na esquina das avenidas Ipiranga com a São João há pouco mais de um ano, o Centro Histórico de São Paulo vive uma fase de renovação, com reforma no calçamento, instalação de novo mobiliário urbano, sinalização turística, iluminação funcional e cênica de edifícios históricos, reestruturação da infraestrutura subterrânea, entre outras melhorias.

Ao todo, 25 vias que formam o chamado Triângulo Histórico passam por um verdadeiro banho de loja com a intenção de transformar a região em um shopping a céu aberto, atraindo novos comerciantes, moradores e consumidores.

Várias intervenções acontecem ao mesmo tempo para fazer da região, que hoje é apenas um local de passagem, um destino de permanência. A revitalização do Vale do Anhangabaú, que sedia grandes eventos gratuitos, e a concessão do Terraço Martinelli são exemplos das melhorias implantadas na região.

NOVA ILUMINAÇÃO

Os novos pontos de iluminação fazem parte do plano para trazer mais segurança à população que passa pela região e atrair mais movimento para o Centro no período noturno. Haverá iluminação cênica de pontos de destaque do Triângulo Histórico e recuperação dos postes modelo São Paulo Antigo.

Alguns endereços do projeto serão iluminados nesta semana pela primeira vez, como parte das comemorações do aniversário de São Paulo, no dia 25 de janeiro.

Uma iluminação modernizada ressaltará a beleza da arquitetura de monumentos, como os da Praça da Sé, o Teatro Municipal e parte do Mercado Municipal. Serão trocadas as lâmpadas de mercúrio por vapor de sódio. Também será realizada a recapagem em alguns postes de concreto.

Entre as ações previstas está a substituição de luzes convencionais por luminárias com módulos de LED em alguns pontos do Centro, que garantem a economia de energia, aumento de luminosidade geral dos locais, facilidade na manutenção dos equipamentos e segurança nos arredores, assim como foi feito na Avenida Paulista e no Museu do Ipiranga.

A Praça da Sé já ganhou 114 novos refletores de LED de alta potência e teve 11 postes ornamentais recuperados. A Catedral da Sé ganhou dez refletores LED nas luminárias das ruas das laterais e na frente do edifício, além de quatro refletores no poste existente na Rua Praça Dr. João Mendes, que fica ao fundo.

O Theatro Municipal recebeu novas luminárias de LED, mais potentes e modernas se comparadas com as tradicionais, substituindo as de vapor de sódio. No Mercado Municipal, os refletores de vapor de sódio também foram substituídos por LED, mantendo as posições e quantidades do projeto original, com 464 refletores.

RENOVAÇÃO IMOBILIÁRIA

Marcada por construções antigas, a área tem duas leis de destaque nesse movimento. A primeira, o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Central, uma medida que oferece benefícios fiscais e tributários para incentivar a reforma de edifícios e a instalação de novos negócios no Centro.

O instrumento cria regras específicas para o desenvolvimento da região central, permitindo construções maiores e mais vantajosas que as permitidas pelas regras gerais da cidade, que deve atrair 220 mil novos moradores nos próximos dez anos.

Já a chamada Lei do Retrofit, aprovada em 2021, que incentiva a reforma de edifícios antigos, permite novas adaptações para atender aos requisitos de segurança e acessibilidade atuais.

Quem faz retrofit em um prédio recebe isenção do IPTU por cinco anos, redução de taxas e isenções municipais. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, já são mais de vinte projetos deste tipo protocolados na Secretaria de Licenciamento.

Nesta lista, três casos já foram aprovados: o Edifício 7 de Abril, antiga sede da Companhia Telefônica Brasileira e da Telesp, que será transformado em um condomínio residencial de alto padrão; o Edifício Antonio de Queiroz Telles, que abrigará estúdios de até 28 metros quadrados; e o Edifício Virgínia, que terá 121 apartamentos de 26 a 182 metros quadrados, além de três lojas no térreo dedicadas à gastronomia e ao mercado criativo e um restaurante na cobertura.

Outra aposta da Prefeitura de São Paulo para requalificar o Centro da cidade é o plano urbanístico da área de Intervenção Urbana do Setor Central (AIU-SCE), instituída e regulamentada pela Lei 17.844/2022 e o Decreto 62.466/2023.

A medida substitui a antiga Operação Urbana Centro e amplia os estímulos para investimentos na região central. Com um perímetro de 2 mil hectares, dividido nos setores Centro Histórico (distritos da República e Sé) e Centro Metropolitano (abrangência total ou parcial dos distritos do Brás, Belém, Pari, Bom Retiro e Santa Cecília), a AIU do Setor Central visa requalificar por meio do incentivo à habitação.

O primeiro projeto inaugurado há dois meses pela Lei do Retrofit foi o edifício Renata Sampaio Ferreira, construído em meados da década de 1950 na esquina das ruas Major Sertório e Araújo, na região central.

O prédio aparece na lista de obras icônicas, como o Copan, o antigo São Paulo Hilton Hotel e o Jaçatuba.

Com projeto assinado pelo escritório Metro Arquitetos, o prédio renovado tem 93 apartamentos em cinco configurações – de estúdios de 25 metros quadrados a duplex de dois a três quartos. 

No térreo do empreendimento, um complexo cultural e gastronômico que mistura bar, café e brasserie, além de uma espécie de clube com piscina, solário e sauna que pode ser frequentado por qualquer pessoa no sistema day use.

O “novo Renata” coroa esse momento da requalificação da região central também pela iniciativa privada com o apoio do poder público quebrando algumas barreiras, principalmente ao mostrar para o setor imobiliário que é possível promover a requalificação de forma eficiente.

Nessa toada, também deve acontecer a requalificação do Palácio dos Correios, que o transformará em espaço multiuso, com serviços e atividades disponíveis 24 horas por dia para a população, abrigando também a Central de Monitoramento de Câmeras da cidade, o projeto Smart Sampa, que prevê a instalação de 20 mil câmeras de reconhecimento facial na cidade.

MAIS ACESSIBILIDADE

A acessibilidade também é um dos principais objetivos do projeto. Mesas táteis serão colocadas na região para garantir orientação e informação para as pessoas com deficiência visual.

O projeto de sinalização turística de São Paulo tem como referência uma ação similar adotada no centro de Londres, na Inglaterra, que foi capaz de reduzir o uso de metrô na região. Isso porque, sabendo a distância curta a ser percorrida para chegar até o destino, muitas pessoas passaram a andar a pé.

Parte mais visível do projeto em um primeiro momento é a substituição das pedras portuguesas, instaladas na década de 1970, por calçamento de concreto. O novo tipo de piso reduz o risco de quedas e acidentes, e também facilita o deslocamento de pessoas com dificuldade de locomoção.

As novas calçadas são mais resistentes ao tráfego de caminhões de limpeza urbana e carros-fortes, proporcionam economia e facilidade de manutenção das redes subterrâneas de drenagem e de galerias técnicas.

INFORMAÇÕES TURÍSTICAS

Pensando na vocação turística da região, a Prefeitura também começará a instalar placas de sinalização turística para pedestres. São 14 totens com mapas que mostram a localização dos pontos de interesse turístico para ajudar quem visita a capital a localizar os atrativos, traçar o caminho ao destino seguinte e também a obter mais informações e curiosidades sobre cada local por meio de um QR Code, além de mostrar a programação temporária desses espaços.

Tais placas ficarão em pontos de entrada do Triângulo Histórico, como a Praça da Sé e o Largo São Francisco. A implantação das placas é uma das medidas da Prefeitura para estimular o turismo na cidade.

Outra ação para atrair mais turistas para a região central é o programa Ruas Abertas. Um trecho de 1,5 quilômetro, entre o Largo do Paiçandu e a Rua Helvétia, tem sido interditado para a circulação de veículos aos domingos. 

Na prática, a ação é similar àquela da avenida Paulista, com o trajeto criando um corredor para caminhar entre o Vale do Anhangabaú e o Minhocão, áreas que já funcionam como espaços de lazer aos fins de semana.

Crédito texto: Mariana Missiaggia

IMAGEM: Croqui da Prefeitura de São Paulo.

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