Olivier Anquier reabre a padaria Mundo Pão no Centro de SP

Em entrevista ao Diário do Comércio, o chef e empresário conta as suas motivações para reestruturar a loja, agora no térreo do Edifício São Thomaz, depois de tê-la fechado em 2021, durante a pandemia

O empresário e chef francês Olivier Anquier está acostumado a observar o Centro de São Paulo do alto de seus negócios na Praça da República: o Esther Rooftop, inaugurado em 2016, e o L’Entrecôte d’Olivier Rooftop, aberto no último ano. Lado a lado, os restaurantes ocupam o mirante do histórico Edifício Esther. Agora, Olivier busca uma abordagem mais democrática.

Há cerca de um mês, ele abriu a nova unidade da padaria Mundo Pão do Olivier, a cem metros dos seus outros dois empreendimentos, mas, desta vez, no térreo do edifício São Thomaz, onde suas receitas podem ser vistas da calçada por quem passa por ali.

As vitrines, de frente para a rua, estão repletas de pães e doces artesanais, onde antes figuravam as peças da joalheria Amsterdam Sauer, fechada em 2021. As mesas em uma espécie de varanda convidam o pedestre a sentar para experimentar o cardápio. O novo endereço é a quarta unidade da rede, e está no número 29 da avenida São Luís – em frente ao Colégio Caetano de Campos, no cruzamento com a avenida Ipiranga.

A Mundo Pão nasceu em 2016, ali mesmo na República, mas sucumbiu no começo de 2021 por dificuldades financeiras causadas pela pandemia. Em 2022, o empresário retomou a marca no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, ao lado do sócio Rafael Ribeiro e decidiram que seria um bom momento para expansão.

Fugindo das formas mais tradicionais, como, por exemplo, o franchising, optaram por um modelo de equity crowdfunding, similar às ‘vaquinhas’, que arrecadou R$ 3,4 milhões junto a investidores. Com o recurso captado, a Mundo Pão inaugurou duas unidades no segundo semestre de 2024, nos shoppings Morumbi e Anália Franco.

No final de abril, foi a vez do retorno à República, com a unidade que é apontada como uma loja conceito em uma área de grande circulação e definida por Olivier como a “cereja do bolo”, “a estrela da rede”, que resgata a origem afetiva do chef com o Centro de São Paulo. A marca segue com seu plano de expansão para os próximos meses, projetando a abertura de seis novas unidades.

Em entrevista ao Diário do Comércio, Olivier Anquier fala da sua relação com o Centro de São Paulo e explica por que decidiu reabrir a Mundo Pão na região da Praça da República. Acompanhe:

Diário do Comércio – O que motivou a reabertura da padaria Mundo Pão no Centro?

Olivier Anquier – Primeiro, por não aceitar a derrota; segundo, por continuar a acreditar, não só continuar, mas amplificar a certeza de que o Centro está vivendo e iniciando um novo capítulo. Eu quero, desejo isso, me sinto na obrigação de ser um dos atores dessa história, desse novo capítulo. O terceiro motivo para reabrir no Centro foi o destino, que coloca na nossa frente as pessoas e as oportunidades que nós merecemos. Apareceu essa oportunidade nessa esquina nobríssima da Praça da República, onde tive a primeira Mundo Pão. Portanto, eu não hesitei um instante para, junto aos meus sócios, pegar essa loja e reabrir.

O que você destacaria da sua história com o Centro de São Paulo? Como se deu essa conexão?

O Centro me deu a credibilidade que adquiri ao longo de 30 anos, e isso é um grande orgulho, algo que me preenche. São Paulo me deu tudo o que eu construí, me deu todas as ferramentas para construir a minha vida. Agora, sinto a necessidade de devolver algo para a cidade, me apoiando nessa credibilidade que adquiri para conscientizar e dar esperança às pessoas de que o Centro é outro. O Centro merece isso.

Por que decidiu apostar na expansão da padaria Mundo Pão?

Iniciei a minha história na panificação no Brasil, em São Paulo, em 1993, quatro meses antes do nascimento do Plano Real. Faz 32 anos que estou presente no universo da panificação, em diferentes etapas, sem nunca desistir e sempre inovando. Mas sempre inovei como artesão, sozinho. O destino fez com que, dois anos e meio atrás, eu tivesse, graças às amizades que constituí, a oportunidade de abrir o meu quiosque Mundo Pão do Olivier, isso depois do fechamento na pandemia. Esse espaço, no Conjunto Nacional, que virou um grande sucesso, foi um trabalho em conjunto com esses sócios que continuam operando a unidade comigo. Eles fizeram o que eu nunca fui capaz de fazer, porque não é o meu universo, eu não tenho essa inteligência de expansão que, por exemplo, o Rafael Ribeiro possui.

Eu não me precipitei a tentar fazer algo sozinho porque eu não teria a capacidade profissional e a inteligência, a compreensão de como construir todo um plano de desenvolvimento muito feliz, muito profissional, que deu início a essa expansão, abrindo essa loja maravilhosa da avenida São Luís, após ter aberto um segundo quiosque no shopping Morumbi, o terceiro quiosque no shopping Anália Franco. E teremos no shopping Center Norte, em outro shopping também, provavelmente na região do Itaim.

Quais são os principais desafios de se administrar uma loja no Centro da capital paulista?

O principal desafio de investir nesse tesouro que é o Centro de São Paulo, pela história, pela alma que tem, por ser o único bairro de São Paulo onde há o verdadeiro contato humano, é conseguir ter credibilidade para que as mensagens dos nossos negócios sejam contempladas de forma positiva. Temos que apagar a sequência de uma campanha muito forte contra a região durante e após a pandemia, e que instalou o medo nas pessoas. Hoje, o Centro é provavelmente o bairro mais seguro de São Paulo, justamente pela realidade do reforço na segurança, que não vemos ainda em outros bairros. Isso faz com que se consiga desfrutar daquilo que nós achávamos que estava perdido. O nosso Centro está reencontrando as suas ‘letras de nobreza’, o seu brilho, o seu encanto.

Quais dicas você daria para quem está começando um negócio no Centro de São Paulo?

A melhor dica é não perder tempo. A hora é agora. A segunda dica é sair do óbvio, do repetitivo que nós encontramos em todos os outros bairros. O maior exemplo disso foi a inauguração da padaria Mundo Pão, que trouxe para o Centro algo para enriquecer as opções já muito consistentes de divertimento e gastronomia da região. Pense em algo que soma, uma proposta que se adiciona às outras, algo diferente. Já tem muita hamburgueria, por exemplo, e vir aqui para fazer mais uma talvez não seja a melhor ideia. Aproveite, pois ainda tem muita coisa para se fazer no Centro, e faça a diferença.

Como você enxerga o setor de panificação atualmente?

Eu vi e participei dessa evolução quando abri a Pan de France, em Higienópolis, em 1993, e posso afirmar que, realmente, pelas origens brasileiras, católicas, de cultura latina, onde o pão é muito simbólico e profundamente presente, hoje o brasileiro aprendeu a se deliciar e se maravilhar com o mundo dos pães e por isso é um mercado que continua forte e acredito que sempre será muito promissor.

Crédito texto: Mariana Missiaggia/Diário do Comércio

Crédito imagem: Thais Helena Bento Zullo/Divulgação

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