Le Pink Collective: o negócio que quer deixar o Centro de SP bem na foto

Há cinco anos, a empresária Ana Carolina Ferreira comprou um imóvel desocupado na Avenida São João e o transformou em um cenário instagramável para produção de conteúdo. Deu certo, e agora ela aposta em novas experiências imersivas na região

Por Mariana Missiaggia, repórter do Diário do Comércio

Fugindo do lugar-comum, a empresária Ana Carolina Ferreira enxergou em um imóvel tombado do Centro de São Paulo a chance de reproduzir aquilo que via acontecer em Londres. Sua ideia era reunir em um mesmo espaço diferentes possibilidades de uso e uma estética marcante.

Na última década, Carolina se especializou em transformar ambientes impessoais, normalmente destinados a hospedagens, em lugares criativos e inusitados, que tivessem uma identidade visual forte e servissem para diferentes propósitos. Em São Paulo, foi no número 324 da Avenida São João, o edifício Oscar Rodrigues, construído em 1944, que a empresária encontrou o seu lugar para fundar a Le Pink Collective.

Inspirados em narrativas, cinema, arte e momentos históricos, os espaços não são apenas para se hospedar ou trabalhar, funcionam também como cenário para produções e palco de ativações culturais, que podem ser locados a partir de R$ 250 a hora.

Com decoração maximalista no estilo shabby chic – que cria um ambiente romântico, elegante e acolhedor -, e paredes supercoloridas, o espaço foi feito para estimular a criatividade e criar conexões entre pessoas, negócios e culturas, explica Carolina.

“É menos sobre o espaço em si e mais sobre a forma como ele é usado para contar histórias e gerar impacto criativo.”

Para além das paredes da Le Pink, Carolina diz acreditar no conceito como algo que supera os negócios, e que surge com uma missão clara de provar que a beleza e a criatividade podem – e devem – ser as forças por trás da revitalização do Centro de São Paulo.

O surgimento da Le Pink

Ao contar a história da Le Pink, Carolina diz que a ideia de construir um portfólio de espaços que fugissem do padrão começou em 2015, em Londres, quando ainda trabalhava no mercado de luxo, como visual merchandising. Foi quando viu a oportunidade de criar algo novo. O primeiro teste aconteceu em um apartamento todo em branco, que ela pôde colorir como queria. No ano seguinte, veio o segundo apartamento, no mesmo prédio, ambos pertencentes a mulheres que moravam sozinhas e queriam mais identidade para o lugar em que viviam.

Com o tempo, mais de vinte projetos similares foram acontecendo. Mesmo morando fora do Brasil, ela diz ter acompanhado os movimentos de revitalização do Centro Histórico de São Paulo, os projetos de retrofit e desejava fazer parte desse movimento com o projeto da Le Pink que já tinha em mente.

Em 2020, mesmo à distância e em plena pandemia, soube de algumas oportunidades com os valores dos imóveis e as taxas de juros mais baixos. Ela pagou R$ 280 mil pelo apartamento, avaliado atualmente em, pelo menos, R$ 600 mil. “O imóvel valia mais do que estava sendo pedido e estava em uma localização privilegiada”, lembra.

Todo o processo levou cerca de cinco meses. Ela conta que o apartamento tinha alguns problemas de infiltração e estrutura, que foram fáceis de resolver. Quase todos os elementos originais foram mantidos: pisos de madeira, portas, janelas. Apenas o corredor, a cozinha e o banheiro precisaram de intervenções maiores para recuperar a essência original. 

A cereja do bolo foi a descoberta de que o próprio edifício parecia ter saído de um filme, conta a empresária. Trata-se de um edifício com a fachada cor-de-rosa, com elevador vermelho e dourado e porta preta de correr, elementos que remetem diretamente ao universo de O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, que acabou inspirando todo o conceito criativo do apartamento.

Além de muitos desafios, Carolina recorda que a pandemia trouxe também um novo significado à região, com uma demanda por experiências de hospedagem em edifícios icônicos, como o Copan e o Mirante do Vale, além do desejo de redescobrir a própria cidade. Logo após a retomada dos negócios pós-pandemia, o empreendimento girou cerca de R$ 700 mil em um ano de operação.

“Estruturei cada segmento de forma clara, com propostas e valores distintos”, conta Ana Carolina. Essa clareza ajudou o público a entender que a Le Pink era mais do que um lugar para ficar; era um ambiente vivo, feito para estimular a criatividade e conectar pessoas, negócios e culturas.

Hoje, o faturamento da Le Pink é dividido entre duas frentes. Cerca de 50% vêm de hospedagens e a outra metade de locações e audiovisual, fechados de forma personalizada.

Embora reconheça que ainda há resistência em relação à região central de São Paulo, Carolina aposta no potencial da criatividade para transformar lugares. A empresária diz ter como missão criar experiências tão especiais que as pessoas queiram ir aos locais, não apenas pela localização, mas porque encontram algo único, com propósito e identidade.

“Se estivesse em bairros como Pinheiros ou Vila Madalena, provavelmente teria uma taxa de ocupação e uma procura muito maiores. Mas isso não me desanima, pois quando transformamos espaços ociosos em ambientes criativos e multiuso, criamos desejo, atraímos pessoas e formamos comunidades.”

Para alcançar público, a empresária diz apostar no Instagram, no mailing e em outros canais digitais, sempre de forma direta, criando um diálogo constante com quem se identifica com a proposta. Nesses últimos cinco anos, sua veia de diretora apareceu em outros projetos semelhantes, porém um pouco mais segmentados, como a ambientação do apartamento inspirado no filme Amelie Poulain, que fica no icônico Edifício Germaine Burchard, disponível para locações curtas – também no Centro de São Paulo.

Sempre de olho em novas oportunidades, a empresária diz estar agora empenhada em priorizar as experiências imersivas da Le Pink, que também podem acontecer em colaboração com outros lugares e parceiros. A mesma estratégia que já vem desenvolvendo em imóveis em Londres e na Itália, e que deseja trazer cada vez mais para o público brasileiro.

“Ou seja, é menos sobre abrir novos endereços e mais sobre ampliar a forma como as pessoas vivem e se conectam com a nossa proposta criativa”, diz.

Crédito imagem: Le Pink/Divulgação

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