“Empresários estão de olho no Centro”, diz Ordine

Associação Comercial cria projeto #VEMPROCENTRO para promover o shopping a céu aberto

Um Centro no auge, vibrante, mix de lojas, incluindo as chamadas âncoras, bares, restaurantes, cultura e lazer. Esse era o cenário da região central de São Paulo no século XIX e assim permaneceu até o processo de descentralização, na década de 1970. Há um trabalho em curso agora com vistas à revitalização do Centro Histórico, envolvendo o poder público, através de incentivos, e a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que recém-lançou o projeto #VEMPROCENTRO. O objetivo é atrair novos negócios e promover um shopping a céu aberto no Triângulo Histórico. “Empresários estão novamente de olho no Centro”, disse o presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine.

A região volta cada vez mais à cena no âmbito dos negócios na cidade de São Paulo, e está competitiva novamente. “Já estamos recebendo empresários que estão considerando abrir ou reabrir o seu estabelecimento, que um dia esteve no Centro”, afirmou. Entre elas, há uma cervejaria mundialmente conhecida que estuda abrir um bar-conceito em uma esquina importante do Triângulo Histórico. A expectativa é que com a presença de grandes marcas, outras se animem, e também apostem em novos negócios no local. “E a ACSP tem o dever cívico de ver o Centro totalmente revitalizado, pronto para voltar a ser o que nunca deveria ter deixado de ser.” Confira a entrevista. 

Diário do Comércio – O que é o projeto #VEMPROCENTRO? 

Roberto Mateus Ordine – O #VEMPROCENTRO é a revitalização da região mais importante da cidade, onde São Paulo nasceu, portanto, a exemplo do que ocorre no mundo todo, o Centro da cidade é o local mais importante. O objetivo do #VEMPROCENTRO é impulsionar novos negócios no Triângulo Histórico e promover o shopping a céu aberto. 

O que a Associação Comercial espera com o #VEMPROCENTRO?

Ordine – A Associação Comercial tem o dever cívico de estimular o Centro, primeiramente porque foi onde a Associação nasceu. E o alvo principal são rua Direita, rua São Bento e adjacências – as 25 vias que formam o Centro Histórico. Essa região que até a década de 1970 foi o principal centro comercial do país. Esperamos criar o shopping a céu aberto aqui. Estamos trabalhando para isso e já recebendo empresários interessados em abrir e até mesmo reabrir seus negócios.  

O que levou à descentralização do Centro a partir da década de 1970?

Ordine – Um dos motivos foi a instalação dos calçadões. Depois disso, comerciantes partiram para shoppings e para os outros bairros, para a Avenida Paulista, em seguida Avenida Faria Lima e Berrini. O que é um absurdo sob o ponto de vista de qualidade de vida, porque o adensamento hoje, algo que está perfeitamente comprovado, é o melhor para uma cidade. O varejo no Centro para nós é um sonho.

Qual é o cenário hoje para levar a este shopping a céu aberto?

Ordine – São poucos os espaços que estão abertos. Essa é a grande luta. Mas para a sorte da cidade de São Paulo, nós verificamos o seguinte: você já ouviu falar na Casa de Francisca? A Casa de Francisca tem reunido no final de semana entre 10 mil e 15 mil pessoas. Isso é um fenômeno que quase ninguém fala. E a ideia também é levar para a Praça do Patriarca alguma coisa semelhante, fazer um ponto e um contraponto desse movimento. 

Como podemos contextualizar a ideia do shopping a céu aberto com as demais medidas que os órgãos públicos estão tomando, como a própria criação da Lei do Triângulo Histórico, e os incentivos fiscais, por exemplo?

Ordine – A ideia é a seguinte: hoje a Lei do Triângulo Histórico proporciona incentivos como a redução do ISS, de 5% para 2%, além de 40% de desconto no IPTU durante cinco anos. Há ainda o incentivo do retrofit, a custo zero, a fundo perdido, em que até 25% da obra de restauro pode ser absorvida por esse fundo municipal. É preciso frisar também que o Centro tem a melhor infraestrutura da cidade de São Paulo. Aqui nasceu a fibra óptica, por exemplo. Temos a melhor internet do município, um sistema de tráfego de ônibus e metrô de ponta a ponta. Esse é o contexto, é um excelente local para os negócios. 

A Associação tem sido procurada por empresários interessados em investir no Centro?

Ordine – Toda semana temos reuniões com grupos de empresários de vários setores aqui no Centro, o que é um sinal muito positivo. 

E há negociações que incentivem marcas a estarem presentes no Triângulo ou mesmo no Quadrilátero em andamento?

Ordine – Neste momento estamos estimulando uma grande cervejaria, conhecida mundialmente, para vir aqui para o lado da Praça do Patriarca. Tem outro caso. No Largo São Francisco há um restaurante chamado Itamarati, que é bem antigo e está fechado. A herdeira é minha amiga. Estamos checando como podemos fazer para ajudá-la a reabrir. Precisamos ser iguais a shopping, com lojas-âncora que puxem o consumo e que acabam beneficiando a todos ao redor. 

Quais são as vantagens comerciais do Centro?

Ordine – Aqui passam diariamente 600 mil pessoas – movimento do metrô. Há uma grande circulação de pessoas e isso é o que todo comerciante quer. É preciso entender que o Centro vai crescer e o que digo ao consumidor é: os preços são muito competitivos.

É possível dizer que há uma força-tarefa entre Prefeitura, governo do estado e Associação Comercial em andamento para revitalizar o Centro?

Ordine – Estamos trabalhando juntos, sim. Há uma sintonia fina entre prefeitura, governo do estado e Associação Comercial. Isso desde o início do governo atual e também a partir do governo do Tarcísio de Freitas. Houve uma preocupação do governador em ajudar o Centro da cidade. Temos um trabalho que só não está tão agregado como nós gostaríamos, de uma certa maneira, porque a burocracia atrapalha. Há uma série de medidas de estímulo à economia em andamento, e também nas áreas da segurança e habitação.

O que será decisivo para resgatar o Centro?

Ordine – Há fatores importantes para se resgatar o Centro e todos passam pela segurança. A segurança é número um, e zeladoria em seguida. E essas medidas envolvem tanto a Prefeitura quanto o governo estadual. 

E o que já saiu do papel?

Ordine – Temos um batalhão específico para a região central agora. São 400 policiais militares efetivos e mais viaturas. A Prefeitura colocou mais 1.200 homens da Guarda Civil Metropolitana e lançou uma operação para que policiais de folga possam se integrar ao trabalho. É um contingente monumental para uma região. 

O sistema de monitoramento de câmeras tem surtido efeito?

Ordine – Sim, o Smart Sampa, que é um sistema de monitoramento por câmeras, tem dado resultado. Na cidade são cerca de 10 mil instaladas. Nesse centrinho, 450. Elas servem tanto para monitorar o dia a dia como também para reconhecimento de foragidos, por exemplo, e desaparecidos. A questão da segurança tem o seguinte também: não é só ser seguro, precisa parecer seguro. 

O que está faltando, presidente?

Ordine – Divulgação. Não basta a autoridade implantar um sistema, é preciso que isso repercuta e estamos fazendo esse trabalho também, visando o fomento do Centro. Precisamos conscientizar as entidades e os veículos de informação. Precisamos dar as boas notícias do Centro, que ajudam a economia e a cidade, porque as ruins estouram a qualquer momento.

É possível dizer, baseado em dados da pesquisa que a Associação encomendou, com a Orbis, que os empresários estão vendo resultados?

Ordine – Os empresários estão otimistas com o processo de revitalização. Há uma necessidade de mais iluminação, isso é uma realidade que precisa melhorar. Mas, por outro lado, segundo a nossa pesquisa, 68% perceberam que o policiamento melhorou. Além disso, temos relatos de aumento de vendas em diversos pontos do Centro. Em torno da Praça da Sé essa alta foi de 15% a 30% nas vendas. E isso vai ocorrer naturalmente em todas as demais áreas.

Texto crédito: Bruna Lencioni

IMAGEM: Dani Ortiz/ACSP

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