Centro de SP vê crescimento de comércios asiáticos

Redes coreanas, chinesas e japonesas, como o empório Daruma, instalado na Rua Augusta, são cada vez mais comuns na região central, onde atuam nos segmentos de cosméticos, eletrônicos, vestuários e de alimentação

Por Cibele Gandolpho

A cidade de São Paulo, especialmente a região central, tem experimentado um crescimento no número de comércios asiáticos nos últimos anos, principalmente coreanos, devido à alta da demanda do público jovem por este tipo de cultura.

Atualmente, a comunidade asiática mais forte no Centro de São Paulo é a chinesa, embora os coreanos e os japoneses também tenham uma presença significativa, cada grupo com suas atividades e influências distintas.

Os chineses atuam principalmente no comércio de atacado e de eletrônicos na região da Rua 25 de Março e entorno e estão por trás do projeto urbanístico Chinatown paulistana, para revitalizar uma área degradada perto do Mercado Municipal. Nessa região central da cidade vivem cerca de 100 mil chineses.

A Liberdade ainda é o símbolo da presença japonesa em São Paulo. No local, os japoneses dominam o setor cultural (festivais, templos), alimentício (restaurantes, confeitarias) e educacional (escolas de idioma e centros culturais). Mas com muitos descendentes migrando para bairros como Aclimação ou Vila Mariana, a região tem experimentado uma transformação.

Hoje, a Liberdade vê a chegada de novos negócios asiáticos tocados por chineses, como lojas de produtos orientais, restaurantes e mercados. Estima-se que cerca de 80% dos estabelecimentos da região estejam sob a administração de empresários chineses, conforme dados da Associação Cultural e Assistencial da Liberdade (ACAL).

A presença chinesa no país deve se intensificar. Em meados de maio, durante um Fórum Empresarial realizado em Pequim, companhias chinesas anunciaram investimentos no Brasil que somam pelo menos R$ 27 bilhões. Desse total, R$ 5 bilhões são previstos pela Meituan, uma plataforma de delivery, e R$ 3,2 bilhões pela rede de fast food Mixue. Pelas características dessas empresas, São Paulo será um dos destinos dos aportes.

Boom coreano

Já o Bom Retiro, originalmente dominado pela indústria têxtil, agora vê um boom impulsionado pelo estilo musical K-pop e pelas novelas k-dramas. São inúmeros empórios, restaurantes e comércios voltados à beleza, principalmente. Produtos cosméticos coreanos, como cremes, máscaras faciais e maquiagem, ganharam popularidade no Brasil, especialmente entre os jovens. Marcas como Innisfree, Laneige, Etude House e The Face Shop se tornaram bastante populares.

A presença coreana na região remonta à década de 1960 e, hoje, estima-se que cerca de 50 mil coreanos e seus descendentes residem na cidade, com uma parcela significativa vivendo no Bom Retiro. A comunidade administra aproximadamente 70% dos comércios locais.

Segundo dados da plataforma de e-commerce Nuvemshop, o impacto do fenômeno cultural e musical sul-coreano tem sido significativo para as pequenas e médias empresas do varejo online no Brasil. No período de janeiro a julho de 2024, essas empresas registraram um faturamento de aproximadamente R$ 3,2 milhões.

O número de produtos coreanos vendidos também apresentou um aumento de 38% em comparação com 2023, totalizando mais de 27 mil unidades. Os itens mais comercializados incluem roupas, como camisetas e moletons, além de artigos colecionáveis, como bonecos e álbuns/DVDs, todos ligados ao universo do K-pop.

Para Eduardo Yamashita, diretor de operações da consultoria Gouvêa Ecosystem, esse crescimento da força asiática, de uma maneira geral, vem de uma combinação de fatores.

“De um lado, temos a questão cultural, por meio desse boom da cultura asiática no ocidente, pela cultura k-pop e pela própria história do cuidado da estética asiática, especialmente coreana e japonesa. Os jovens, principalmente, aumentam a familiaridade com as marcas vindas da Ásia”, diz.

Mas, segundo ele, há o lado econômico desse movimento. “Por conta do crescimento da demanda por produtos asiáticos por parte dos ocidentais, os empresários que estavam focados em outras regiões têm feito seus negócios crescerem no Bom Retiro, diversificando seus produtos e segmentos, saindo dos eletrônicos e aumentando a sua penetração em alimentos, cosméticos e outras categorias.”

Empório japonês

Há três anos, uma mega loja abriu na Rua Augusta. O Daruma tem mais de 2.500 m² distribuídos em cinco andares setorizados por departamento.

Há uma variedade de produtos orientais, ocidentais, importados e nacionais, bebidas não alcoólicas, congelados, temperos, molhos, condimentos, conservas, massas, hortifruti, lámens, bomboniere, perfumaria oriental, papelaria, presentes, festas, utilidades domésticas, decoração, além de floricultura e uma cafeteria com 80 lugares.

A administração do Daruma não quis dar entrevista, mas a reportagem apurou no local um volume grande de público jovem no andar de beleza e papelaria. Uma vendedora explicou que a área de Grab & Go (pegue e leve) é uma das mais requisitadas porque oferece os tradicionais bentôs (marmitas), sushis, oniguiris, temakis, motis, guiozas, nikuman e outros produtos coreanos, como guloseimas, snacks e balas.

E, para que os consumidores possam se sentir no Japão e tirar selfies, o artista Victor Lafayett criou dois murais de grafite dentro do prédio. O primeiro foi inspirado na Rua Akihabara, conhecida como rua dos animes, localizada em Tóquio. E o segundo foi inspirado nas cerejeiras ornamentais do Japão.

Gastronomia

O interesse pela culinária asiática tem crescido, com novos consumidores em busca de experiências autênticas da cultura daqueles países.

De acordo com dados da Mosaiclab, até setembro de 2024 os brasileiros gastaram R$ 1,6 bilhões em pedidos de comida asiática, um aumento expressivo de 46% em relação ao mesmo período de 2023. Esse aumento reflete o crescente interesse pela diversidade e sabores marcantes da culinária oriental.

Esses números indicam que a gastronomia asiática está sendo cada vez mais explorada pelos brasileiros, principalmente em São Paulo.

Um desses points é o Waker Chicken Brasil, inaugurado em agosto de 2023 no Bom Retiro, uma franquia presente em cerca de 20 países. O local vende o famoso frango frito coreano, único prato do estabelecimento, que tem espaço para consumir e fazer delivery.

De acordo com o proprietário, Min Soo Kim, o público do restaurante, que é bastante misto, cresceu nos últimos anos. “Nós abrimos, inicialmente, em Manaus (AM), onde eu morava. Com o passar do tempo, a demanda foi caindo e decidimos vir para São Paulo. Hoje, a maioria dos nossos clientes é formada por famílias, mas também temos muitos jovens”, conta.

Ele destaca que o boom da cultura coreana no Brasil tem impulsionado a procura pelo local. A marca também é bem ativa nas redes sociais e muitos clientes chegam ao restaurante pelos posts no TikTok. “É uma coisa que acho importante para a divulgação”, comenta Kim.

A Waker Chicken tem um ambiente moderno e “instagramável”, com telões passando k-pop. Todos os insumos são importados, inclusive os molhos. Um combo de sanduíche, fritas, salada, refrigerante ou suco custa R$ 49. As porções são bem generosas.

Os cafés que oferecem comidinhas típicas coreanas também têm ganhado mais adeptos nos últimos anos no Centro, aumentando os negócios geridos por coreanos na região do Bom Retiro. É o caso da BellaPan, que adaptou o típico “bonpan” ao paladar brasileiro, com requeijão no recheio no lugar de queijo e manteiga.

Outro endereço de destaque é a sorveteria Snowfall, na Liberdade e no Bom Retiro, que vende o “bingsu” coreano, uma espécie de gelo com leite em forma de flocos de neve com diversos acompanhamentos.

A professora de literatura Bianca Dall Anese, 39 anos, é uma das frequentadoras assíduas. “Adoro o pão e o sorvete coreanos. Estou viciada em novelas coreanas e vejo os pratos que eles comem e acabei gostando muito do paladar. Moro aqui pertinho.”

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