
Por Fátima Fernandes/Diário do Comércio
Depois de ver o fechamento de lojas ser maior do que a abertura nos últimos cinco anos, o comércio da cidade de São Paulo registra números positivos em 2025.
De janeiro até o dia 14 de setembro, abriram 50.013 empresas de comércio na capital paulista e fecharam 30.337, de acordo com a Hoff Analytics, empresa de inteligência de dados, com base em números da Receita Federal.
O saldo ficou positivo em quase 20 mil empresas. Os setores mais pujantes na abertura de lojas foram os de vestuário, utilidades domésticas e bebidas, de acordo com a Hoff.
Os números deste ano, pelo menos até agora, são bem diferentes dos de anos anteriores.
Em 2020, o saldo entre lojas abertas e fechadas ficou negativo em 2.659. Em 2021, em 59.773. Em 2022, em 21.522. Em 2023, em 17.410 e, no ano passado, em 12.485.
No acumulado de 2022 até setembro deste ano, o saldo é negativo em 31,7 mil. No período, foram abertas 179.037 e fechadas 210.780 empresas de comércio.
Razões
A queda da taxa de desemprego, a estabilidade na renda dos consumidores e o aumento da concessão de crédito às famílias podem explicar, em parte, o saldo positivo dos negócios do comércio neste ano, de acordo com economistas, lojistas e especialistas em varejo.
Há outras razões. Com a pandemia, os canais de vendas se expandiram por meio da internet (e-commerce) e de redes sociais, dizem eles, favorecendo novos negócios, como os pequenos.
Das quase 51 mil empresas do comércio que abriram neste ano, quase 30 mil (29.764), ou 60%, optaram pelo modelo de MEI (Microempreendedor Individual).
São empresas que, como determina a lei, possuem apenas um funcionário, podendo faturar até R$ 81 mil por ano, escapando de impostos mais pesados sobre o faturamento.
“Esse dado dos MEIs revela que o paulistano está com apetite para empreender. Muitos desses novos negócios são pequenas lojinhas e barracas espalhadas pela cidade”, afirma Wesley Bichoff, sócio-fundador da Hoff Analytics.
Dá para se ter uma ideia da força dos pequenos negócios quando considerada a participação de MEIS no total de empresas do comércio ativas na cidade de São Paulo (402.057), 39%.
Shoppings
Nem só os pequenos negócios com um empregado mostram vigor no comércio em São Paulo. Nos shoppings consolidados, a queda da vacância chegou até a intensificar a prática de luvas.
“Os grandes shoppings estão com taxa média de vacância de 2%, menor nível histórico, abrindo espaço para a cobrança de ágio de lojistas”, afirma Marcos Hirai, sócio-fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas), especializado em shoppings.
Não existe um valor padrão de luvas cobrado de lojistas que desejam entrar hoje em um shopping. Comerciantes mencionam cifras entre R$ 10 mil e R$ 20 mil pelo metro quadrado.
Lojas âncoras escapam de luvas, até porque os centros comerciais, geralmente, têm interesse em determinadas marcas e chegam a arcar com a reforma de espaços para trazê-las.
As luvas são cobradas das chamadas lojas satélites, as franquias dos mais variados setores. “Se as luvas estão de volta, é porque tem mais lojista querendo abrir do que fechar”, diz Hirai.
Consumo menor
Ricardo Meirelles, economista do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGVcev), chama a atenção de lojistas e de quem deseja empreender para alguns sinais de enfraquecimento do consumo.
Um dos setores que se destacaram no ano passado por melhor desempenho, o de supermercados e hipermercados, por exemplo, mostra desaceleração.
No ano passado, de acordo com dados da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), do IBGE, o setor cresceu 4,6% em 12 meses. Em julho deste ano, a alta foi de 2,1% para 12 meses.
“Mesmo pressionado por altos juros, redução de margens e falta de mão de obra, o setor de supermercados se mostra resiliente, com crescimento abaixo do histórico, mas crescente”, afirma Fernando Gibotti, cofundador da Rock Encantec, empresa de inteligência de dados especializada em supermercados e farmácias.
Neste ano, diz, a baixa de CNPJs no setor aumentou, apesar de a abertura ainda ser maior.
“O que explica essa situação são as consolidações e as incorporações. A empresa mais fortalecida compra a menos fortalecida e, por questão de negócio, algumas lojas fecham e outras abrem com novas bandeiras”, diz.
Dois setores, de acordo com Meirelles, do FGVcev, mostram reação. O de vestuário, que registrou queda de 2,9% no ano passado, cresceu 4,9% em 12 meses terminados em julho deste ano.
O de móveis e eletrodomésticos, que cresceu 4,1% em 2024, registrou alta de 4,4% em julho.
“O país vive uma conjuntura peculiar. O mercado de trabalho está aquecido e a renda, mantida. Mas outros indicadores dão sinais de que ninguém é de ferro, como a taxa de juros, que tende a ter impacto em alguns setores já neste semestre”, diz Meirelles.
O setor de vestuário e calçados pode ter tido um alívio no primeiro semestre, mas o dado de julho, de alta de 4,9% em 12 meses, em sua avaliação, não deve se sustentar.
O setor de material de construção, diz, é outro que está em rota de menor crescimento, após registrar alta de 4,8% no ano passado e de 3,8% em julho último.
O setor de automóveis, partes e peças, idem. Cresceu 11,6% no ano passado e, em julho, 2,6%. “Este é um setor que deve fechar o ano negativo”, diz Meirelles.
A Hoff também constatou, a partir de dados da Receita Federal, que, das cerca de 30 mil empresas que fecharam as portas neste ano, 4,5 mil abriram neste ano. Isto é, 15% delas não sobreviveram sequer um ano.
Das empresas do comércio que abriram desde 2021 até a metade de setembro deste ano, já fecharam 37,4 mil.
Os chineses são os estrangeiros com maior participação no total das empresas do varejo em São Paulo. Das quase 403 mil empresas ativas, 27% possuem chineses no quadro de sócios.
Norte-americanos aparecem com 11%, seguidos por argentinos, com 8,5%, e franceses, com 5%. Estrangeiros de outros países possuem participações menores do que 5%.
Em 2025, foram abertas na cidade de São Paulo, entre todas as atividades, não apenas do comércio, 203 mil empresas pelo modelo de MEI. No mesmo período, 118.098 fecharam, praticamente a metade.
Especialistas em varejo dizem que isso acontece, geralmente, por falta de estudo de mercado, planejamento, não identificação de público, erros de gestão e dificuldade de acesso a crédito.
Crédito imagem: Newton Santos/DC